Eu lembro quando eu tinha oito anos. Era uma criança comum, como qualquer outra, que brincava de lutinhas com os garotos maiores ou então zoava as meninas que meu grupo de amigos achava mais tosca. Brincavamos de virar figurinhas com a palma da mão, carrinhos, futebol, não perdíamos tempo. Naquele ano, na época de São João, eu reparei nela. Eu era uma criança, mas mesmo assim eu a vi de forma diferente nos preparativos, possuía a mesma idade que a minha. Eu nem sabia o que era aquela coisa diferente que eu senti na hora, parecia normal, apesar de saber que era algo diferente e novo. Desde então eu passei a notar ela cada vez mais e mais.
Seis meses depois, uma garota, cerca de dois anos mais velha que eu, começava a me dar presentinhos ou tentar conversar comigo. Eu era uma criança, já comentei isso? Eu gostava de ganhar as coisas mas não era nada demais para mim. Um belo dia, ela, possívelmente, contou às amigas dela sobre seus sentimentos. Todas vieram gritando que ela gostava de mim, eu estava com meus amigos, aquilo se tornou embaraçoso. Mas não por estar com meus amigos e saber que iriam me zoar por isso, mas a situação em si foi uma surpresa, eu quase não entendia o que era aquilo. Minhas maiores experiências amorosas eram desenhos ou histórias do Carrossel. O que eu fiz? Disse que não gostava dela, a chamei de idiota na frente de todos, e por fim fiz um gesto para não incomodar mais. Meus amigos, apesar de zoarem, me trataram bem. Ela, após tudo isso, foi zoada pelas amigas. Ela deve ter ficado destroçada. Quão cruel eu fui, é verdade.
Aos 9 anos eu já entendia um pouco sobre o que significava amor. Eu estudava na mesma sala daquela garota que eu havia visto pela primeira vez na época de São João. Comecei a pensar nela várias vezes durante o ano, enquanto estava em casa e tentava estudar para as provas. Pensava com grande felicidade, como se ela fosse alguém que eu gostasse muito, o que, enfim, era realmente verdade.
Com 10 anos eu queria falar com ela de alguma maneira, mas nossos caminhos se distanciavam cada vez mais. Seguia minha vida, mais consciente sobre meus sentimentos, eu ainda a via pela minha volta, mas perdia mais tempo cuidando da vida escolar e dos amigos que eu tinha, assim como meu amado futebol, do que tentando investir na garota. Eu a observava a distância. Eu via o jeito dela, seu rosto perfeito, o sorriso dela era simplesmente perfeito. Ela era perfeita. Definitivamente era.
Quando fiz 12 anos, nós fomos trocados de turma. Passei a vê-la muito menos, mas sempre conseguia encontrá-la nos intervalos, perdia meu tempo a observando sempre que podia. Eu planejava como poderia falar com ela, conhecê-la, mas não poderia fazer isso com as amigas dela ao seu redor. Seria, além de constrangedor, muita intromissão. Não queria, queria achá-la sozinha para poder conversar. Nunca aconteceu. A esperava nas saídas para ver se podia falar com ela, mas também nunca aconteceu. Nunca consegui uma oportunidade. Eu estava louco, faria de qualquer maneira, bastava estar sozinha.
Tudo seguiu-se da mesma maneira até meus 13 anos. Eu acabei revelando para colegas meus o que sentia por ela. Eles a conheciam, queriam me "ajudar" com esse problema, eu não queria que fosse na frente das amigas dela. Quanto mais crescíamos, mais estava amando ela a distância. Então, uma bela manhã, um de meus colegas disse que iria acabar de vez com essa história. Eu disse que não, não queria dessa forma, mas ele foi mesmo assim, assim como mais dois colegas que também sabiam disso. Ela, e as amigas, claro, riram de mim. Ela disse em alto e bom tom que eu era muito feio e que isso devia ser alguma piada deles. Eu escutei e saí calmamente em direção ao corredor lotado. Eles foram atrás de mim e eu apenas olhei para eles, disse que não ligava e segui minha vida. Decepcionado, mas ao menos já tinha uma resposta. A rejeição doeu muito menos do que pensei.
Hoje tenho 22 anos. Pude vê-la novamente, ela continua tão linda como sempre. E acho que meu sentimento por ela continua tão vivo quanto antes. O que mudou foi apenas a maturidade e a forma de encarar. Não fico mais suspirando nem passando horas e horas refletindo a respeito. Tenho minha própria vida e meus novos interesses. Ela está namorando e aparentemente feliz. Acredito, também, que esta foi minha punição por ter acabado com aquela menina que me dava presentes. Foi merecido, fui muito idiota. Mesmo que meus sentimentos, no fundo, possam ainda ser iguais, vou cuidar de outra pessoa. Assim como ela o faz hoje. Não é nada mais do que algo precioso em minha vida, em minhas lembranças. Um lindo sentimento que tive por muitos e muitos anos. Não me arrependo e valorizo muito.
E assim a vida continua...
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
2 comments:
ya, ya a vida continua, aos trancos e barrancos!
Que texto lindo!!
Fui lendo com um sorriso nos lábios.
Post a Comment